quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Homem de Ferro (Iron Man, 2008)

Por Bruno Pongas
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Confesso que nunca fui dos mais interessados em histórias em quadrinhos; não pelo fato de não gostar de HQ's, mas por não ter adquirido o costume de lê-los e também pela pouca divulgação veiculada aqui no Brasil.
Até simpatizo com heróis como Batman, Homem-Aranha e Capitão América - só para citar alguns exemplos -, mas estou longe de ser daqueles aficcionados que conhecem de cor tudo sobre a personagem e são capazes de esperar horas a fio em uma fila de cinema para assistir uma estréia desse tipo.
Pois bem; ontem, no conforto do meu lar, assisti ao blockbuster-mega sucesso de bilheteria, Homem de Ferro - baseado no HQ da Marvel. De início, sem dúvidas, houve um pouco de preconceito, já que, a não ser pelo pôster do filme, sequer conhecia a armadura do super-herói.
Não há como não dizer que me assustei ao começar a ver o filme; parecia mais uma daquelas histórias em que detonam os países do Oriente Médio e ao mesmo tempo endeusam e inflam o ego dos norte-americanos. Nessa parte, felizmente me enganei. Contudo, o diretor Jon Favreau comete alguns deslizes que merecem ser citados.
Me desculpem os fãs do HQ e os que acharam o filme um máximo, mas, sinceramente, achei a história e o roteiro um pouco defasados - parecem um pouco forçados e falta aquele quê a mais para o espectador. Outros defeitos que ao meu ver poderiam ter sido melhor trabalhados foram os trinta minutos finais da trama e principalmente o confronto derradeiro, que deixa muito a desejar - fica a impressão que foi tudo concluído com muita pressa e acabaram por atropelar a qualidade. Um último destaque negativo fica por conta da má utilização da atriz Gwyneth Paltrow; poderiam ter se aproveitado melhor do seu grande talento mas, infelizmente, seu papel ficou reduzido se comparado a outros dentro da trama.
Mesmo assim, tenho de admitir que o resultado final me surpreendeu. Apesar de ter lido algumas boas críticas à respeito, não botava muita fé no homenzarrão de lata. Na pele, ou melhor, na armadura do personagem principal, está o excelente Robert Downey Jr. Interpretando o milionário descompromissado da indústria bélica, Tony Stark, Downey dá um colorido especial à trama. Seu carisma, aliado à sua competência, contribuem e muito para o andamento do filme. Além disso, apesar de não ser das melhores adaptações já feitas de quadrinhos para cinema - Batman e Spider Man ficam à frente -, Homem de Ferro está longe de ser um produto ruim. Outro e último ponto positivo a ser destacado é a trilha sonora; o HQ é embalado por um rock que vai desde os australianos lendários do AC/DC ao rock moderno e contagioso dos britânicos do Muse, que interpretam a bela música 'Invincible'. Como não poderia deixar de ser, o som de encerramento fica por conta da também lendária banda Black Sabbath, que toca a inconfundível e propícia 'Iron Man'.
No final das contas, o diretor ainda deixa evidente seu posicionamento quanto à política armamentista também evidente norte-americana - eles próprios que fincanciam e lucram com as guerras pelo mundo. E ainda há quem diga que eles são os salvadores do planeta...

Minha Nota: 7.0

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Hooligans (Hooligans, 2005)

Por Alessandra Marcondes
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Para fugir do costume, publico hoje minha opinião sobre um filme triste, mas que não faz chorar. Sem piano de fundo, nem delicadezas que geralmente dão cor aos dramas de minha preferência, "Green Street Hooligans" é violento, repleto de testosterona e trata de um assunto que vai muito além da minha compreensão - o mundo do futebol. Deixo claro, então, que meu objetivo não é julgar se o filme foi ou não fiel à realidade das torcidas organizadas da Inglaterra; esta tarefa fica para quem a conhece mais de perto. Porém, sem abandonar minha 'personalidade mocinha' - que me fez desviar os olhos de muitas cenas violentas do filme, admito -, posso fazer algumas considerações quanto ao longa em si.
Frodo Bolseiro sempre será um hobbit ingênuo, e nada que Elijah Wood faça apagará tal fama. Mesmo assim, Lexi Alexander, que assina a direção, consegue extrair uma dose certa desta imagem frágil para constituir Matt Buckner, que entra perdido no meio da torcida violenta do West Ham United. Na trama, sua aproximação com os GSE (Green Street Hooligans) se dá após Matt ser expulso de Harvard por um delito que não cometeu; e o filme erra quando parte do princípio-clichê de que jovens revoltados catalizam suas frustrações de forma violenta. Por outro lado, quebra-se a crença de que a brutalidade nas torcidas cresce proporcionalmente ao baixo nível de instrução de seus indivíduos: a história acerta retratando torcedores que se defrontam com uma torcida inimiga, mas que têm de levantar cedo no dia seguinte para dar aula de história, pilotar avião ou exercer outras profissões socialmente aceitas.
É um filme de altos e baixos, no qual as cenas de confronto são um personagem à parte. Há quem diga que o sangue na tela acaba ocasionando mais sangue na vida real, e é verdade que "Hooligans" faz com que o espectador se identifique com um grupo passional, que faz de tudo em prol não só de seu time, mas da sua união, e desrespeita toda racionalidade necessária à manutenção da espécie. Contudo, o diretor consegue fugir de possíveis justificativas para a atitude dos briguentos, e termina sua história mostrando que a vida é muito mais do que o status buscado por quem faz parte da temida GSE. Em um detalhe, inclusive, quando Matt finalmente se vinga de seu inimigo principal, percebemos a opinião do autor da trama quanto às atitudes violentas retratadas pelo filme.
As cenas das brigas recebem cortes inteligentes que não permitem ao espectador se perder entre os golpes, mas são capazes de poupar o estômago dos mais fracos. Mesclando tomadas lentas e rápidas, a fotografia também foi muito bem escolhida em suas cores frias, contrastando com o calor do momento e com um sangue mais vermelho do que nunca. Vale a pena comentar que, infelizmente, a figura feminina capaz de equilibrar o filme tipicamente masculino é pouco utilizada, na pele da belíssima Claire Forlani, de "Encontro Marcado".
O filme vale a pena não só para os homens que se deliciam com cenas de ação, nem para as mulheres que se contentam com o rostinho bonito de Charlie Hunnam, que interpreta o líder da GSE. A briga final, onde homens marcham feito soldados, rumo à incerteza e embalados por uma música que romantiza possíveis heróis, provoca reflexão sobre a violência em geral. Concluo então que guerras político-econômicas não passam de brigas entre gangues de jovens que, mesmo crescidinhos, ainda não possuem nenhum discernimento no que diz respeito aos seus motivos para perturbar a paz.
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Quando você percebe que o seu corpo não é feito de vidro
Não se sente vivo, se não testar os seus limites a todo momento

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Lemon Tree (Etz Limon, 2008)

Por Bruno Pongas
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O conflito árabe-israelense ocorre desde o final do século XIX no Oriente Médio. Até hoje, diversas foram as tentativas de selar a paz na região - a maioria delas frustrada. Disputa de terras estratégicas comercialmente e ideologias religiosas completamente distintas estão entre os principais motivos para o eterno desgaste. Este é um simples panorama do cenário que encontraremos no filme "Lemon Tree".
Em linhas gerais, o enredo conta a história de Salma Zidane - uma viúva palestina detentora de uma generosa plantação de limoeiros - que vê sua vida virar um verdadeiro desastre após a chegada de seu novo vizinho - o ministro da defesa de Israel. Incomodados com um possível ataque dos grupos terroristas palestinos vindos da vasta plantação, o ministro opta pelo mais simples; em meio a diversas alternativas mais humanas, ele prefere ordenar que se acabe com os limoeiros.
Obviamente o objetivo do diretor Eran Riklis é ir muito mais além de uma história fictícia e inocente. O que acontece com Salma no filme, acontece com muitas pessoas na vida real; histórias essas que acabam sendo ingnoradas e esquecidas pela grande mídia. Entretanto, Riklis consegue tratar dessa cruel realidade com uma beleza e sentimentos que envolvem profundamente o espectador. Torna-se impossível não se solidarizar com uma uma mulher que vê seu único grande patrimônio sendo degradado aos poucos pela falta de bom senso daqueles que esbanjam poder. Ao mesmo tempo, é difícil não se emocionar com o pseudo-romance vivido por ela ao desenrolar da trama.
Também fica evidente o descaso das autoridades e os jogos de poder que envolvem determinadas situações; da mesma maneira que é indignante ver o ministro 'calando' sua esposa - que é contra o fim dos limoeiros. Também causa repúdio o desumano veredito final da Suprema Corte de Israel.
"Lemon Tree" vale pela sua dramática e tocante beleza; inegavelmente um excelente filme, brilhante direção e, desconhecidos, porém ótimos atores.
A curiosidade fica por conta das cenas em que o advogado de Salma - personagem vivido por Ali Suliman - aparece vestindo uma jaqueta com uma bandeira do Brasil; como se não bastasse, em uma dessas cenas ele acorda na casa de Salma, e, em cima de sua cama há um pequeno retrato do craque francês Zinedine Zidane; coincidentemente carrasco do Brasil na Copa do Mundo de 1998. Mera coincidência?
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Minha Nota: 9.0

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Canções de Amor (Chansons D'amour, Les , 2007)

Por Alessandra Marcondes
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Fui assistir "Les Chansons d'amour" sem idéia do que se tratava, no embalo de dois amigos em que confio quando a questão é cinema. Talvez eu o tivesse descartado através da sinopse, pois não morri de amores pelos últimos filmes que vi nem com Ludivine Sagnier ("Uma garota dividida em dois") nem com Louis Garrel ("Em Paris"). Porém, logo na cena inicial, o diretor Christophe Honoré ganhou meu voto de confiança: a música pop de Alex Beaupain (autor inclusive da canção que salva "Em Paris", na cena do telefone) é cantada pelos próprios atores, sem os frufrus da maioria dos musicais. Daí em diante, dançarinos brilhantes não surgirão de fora da tela, nem haverá orquestras rebuscando músicas românticas... Apenas as personagens darão conta de mostrar o quão complexo é o relacionamento amoroso entre duas (ou mais) pessoas.
Entre diálogos, canções e a belíssima Paris como cenário, a trama não perde tempo. Pode-se dizer que o longa tem ritmo acelerado pois trata de muitos acontecimentos e personagens pelo caminho, com um ponto de virada crucial que desencadeará diversas outras surpresas. Para manter a velocidade dos fatos sem se perder no conteúdo, Honoré tem de sacrificar o tratamento dado à relacão de Ismael (Garrel) com Julie (Sagnier), por exemplo - o espectador mal entende se existe ou não amor entre os dois, e já tem de passar para a próxima 'fase', digamos assim.
De qualquer maneira, a história dramática é percebida para aqueles que se prendem a cada detalhe, ou à 'beleza do gesto', como propõe Ismael quando o assunto é amor. As seqüências tristes demais (mas belíssimas, com destaque para a cena de Chiara Mastrioanni no parque) recebem cortes inteligentes que misturam os sentimentos de quem assiste. A dor de se perder alguém querido sem conseguir seguir em frente é grave demais, mas é impossível passar sem um sorriso no rosto pela conversa em que Julie conta para a sua mãe que está envolvida em um ménage a trois. Ou quando Jeanne (Mastrioanni) flagra o ex-namorado 'hetero' de sua irmã na cama com outro.
Se for pra tirar uma lição maior, o filme nos mostra que não há limites para o amor. Se encaixa perfeitamente na modernidade volátil em que vivemos, pois aquela idéia antiga de termos uma única chance para encontrar nossa alma gêmea vai de encontro à busca pela felicidade plena que nossa individualidade estabeleceu. Honoré foge dos esteriótipos, respeitando diferentes manifestações de sexualidade entre suas personagens, e demonstrando que aproveitar os pequenos detalhes é muito mais importante do que estabelecer se devemos amar só homens, só mulheres, só uma, duas, ou três pessoas.
Um filme bonito, que deixa aquele sorriso doído no rosto enquanto passam os créditos. A trilha sonora vale por si só, mas quando associada à sensibilidade na expressão de cada ator, e manuseada pelos dedos de algodão de Christophe Honoré, se transforma em um produto explêndido e diferente de tudo que já se viu.
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Mas um amor que realmente dure
Faz os amantes menos belos
O passar do tempo
Rouba o que temos de melhor