quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A Troca (Changeling, 2008) e os CriCríticos

Por Alessandra Marcondes

Sabe quando você lê uma crítica de um cricrítico malinha? Aquele ser humano que se pensa naturalmente superior a toda e qualquer obra já realizada na história do cinema? Não estou condenando o ato de falar mal de certo filme; o problema é se dedicar às alfinetadas em um esforço neurótico, passando pela música, pelos atores, pelos cenários, e pelo pobre diretor. Concordo que existem películas no mundo que deviam ser derretidas, para nunca mais atingirem vítimas desinformadas nas locadoras, pois certas vezes o cricrítico até tem razão: nada se salva em obras que, geralmente, contam com a presença de figuras como Lindsay Lohan e Paris Hilton. Porém, para criticar um cara como Clint Eastwood, já consagrado seja pelo romântico - e um pouco brega, fazer o quê - "Pontes de Madison" ou por "Sobre Meninos e Lobos", que dispensa comentários, o cricrítico ou tem pouca coisa pra fazer, ou tem fundamentos seríssimos, que ninguém contestaria.
Pois bem! O longa intitulado "A troca", se baseia na história real de Christine Collins - interpretada por Angelina Jolie - envolvendo o desaparecimento de seu filho, os métodos de opressão da polícia da década de 20 e uma chacina infantil aterrorizante executada no povoado de Wineville, nos Estados Unidos. Existe muita informação para reunir em um filme só, resultando em 140 minutos de projeção. Porém, ao contrário do que li em muitos lugares, a trama não descamba na última metade: Eastwood sabe como manter a curiosidade do espectador por descobrir se o menino Walter (Gattlin Griffith) foi assassinado ou não, sem entregar o ouro nem realizar um final óbvio.
Tudo bem, se é pra deixar o benefício da dúvida para cada um realizar mentalmente o final de sua preferência, talvez o filme pudesse sim terminar com antecedência. Porém, quando é gostoso de assistir, por que não permanecermos sentados um pouquinho mais em frente à grande tela? Conforme o tempo passa, percebo que a raça cult renega mais e mais os filmes chamados 'fáceis', seja por sua linearidade, por seus padrões predominantes, ou pela forte apelação emocional. Mas na verdade, não há mal nenhum em gostar - e pior, falar bem para todo mundo ouvir - de um filme bem amarrado como este, ainda mais quando a trilha sonora e a cenografia são um elemento a parte, quase que vivos dentro da tela. Também não é crime derretermos o coração de pedra por causa do problema real que é o desaparecimento de crianças; ele pode até parecer pequeno frente a doenças contemporâneas tão sérias, como a infelicidade consumista ou a imbecilização das massas, mas infelizmente existe, provocando traumas inexplicáveis na profundidade das famílias que perderam um parente sem ter o direito de saber se foi para a morte, para a prisão ou para qualquer outro fim.
Para não parecer uma entusiasta que defende cegamente o filme que gosta, a cena em que Christine é salva pelo Reverendo (interpretado por John Malkovich) - ou pelo gongo, para ser mais exata - segundos antes de passar pelo choque elétrico, é bem desajeitada, lembrando o suspense barato das telenovelas. Porém, o modo como Jolie encarnou a mãe solteira, que precisa ser racional para resolver o problema sozinha, mas ao mesmo tempo capaz de transmitir a dor imensa de uma mulher não acreditada e punida indevidamente faz jus à indicação ao Oscar de melhor atriz que recebera.
Por fim, deixo claro que esta não é uma tentativa de criticar a crítica renomada, visto que a grande maioria falou mal mesmo do filme. Só é um contraponto para que pensemos um pouco sobre as implicações da transposição de um enredo para a tela, pois não sendo ele fascista nem alienante, poderíamos deixar de lado nosso espírito de cricríticos para apreciarmos com menos resguardos não só a sétima arte, mas a beleza da vida em sua totalidade.

Eu sei que meu filho está por aí.
Eu ainda posso senti-lo.

2 comentários:

Movie For Dummies disse...

Caramba, Leka! Foi a crítica mais ácida do mundo! hahahaha

Mas tá certa, pelo que vc me mostrou o pessoal meteu o pau sem a mínima razão! Foi mais um trabalho de primeira do Eastwood, mas achei que ele poderia ter acabado o filme um pouco antes - só que isso é mero detalhe.

Mais uma bela crítica :]

Movie For Dummies disse...

E esse post foi de BRUNO PONGAS! hahahahaha